SOBRE PSICOPATIA: DADOS NOVOS

 

No nosso último artigo, apresentamos a obra Sobre Psicopatia: diferença entre psicopatia e traços disfuncionais da personalidade (Ed. Sparta, 2024), da Dra. Hilda Morana, afamada psiquiatra forense brasileira. Voltamos, uma vez mais, ao livro em foco.

Com efeito, quem se debruça com perspicácia sobre a grande obra que trata da psicopatia no Brasil (Sem consciência, de Robert Hare, da Editora Artmed), percebe pontos de convergência e, como é comum, também de divergência entre ela e a recém-lançada obra de Hilda Morana. Sem entrar nesses pormenores, nossa intenção é a de apresentar, nas palavras da própria autora, sempre que possível, o que – segundo a nossa apreciação – há de novo nesta importante pesquisa. Proporemos três pontos.

O primeiro é o uso de uma medicação como meio de conter um pouco o impulso do psicopata, uma vez que as psicoterapias, em suas diversas modalidades, podem torná-lo pior, pois aprende, observando atentamente o psicólogo, a melhor manipular suas vítimas. Eis porque, no Ambulatório de Transtornos da Personalidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC), a autora do livro desenvolveu, com sua equipe de pesquisadores, um protocolo que oferece a seus pacientes a gabapentina na posologia diária de 1200 mg dividida em três doses de 400 mg cada vez. Mesmo que ainda requeira mais pesquisas, o relato de pacientes ou de seus familiares foi o de que, após seis semanas de uso, ocorreu a “diminuição da agressividade, da impulsividade, do comportamento antissocial e do abuso de drogas. Houve também melhora da capacidade de concentração e prospecção e maior interesse por atividades produtivas” (p. 128).

O segundo diz respeito a cadeias específicas para psicopatas em alguns países. O tema em si não é novo, mas um detalhe sim. Nestas unidades prisionais, reina a paz entre a população carcerária. Por quê? – Porque o psicopata, apesar de parecer o todo-poderoso com suas frágeis vítimas (cf. pp. 55-59), é um grande covarde que age nas sombras por medo de retaliações. Hilda Morana, citando Mendes (2020), diz: “Em personalidades psicopáticas, evidencia-se nítida despreocupação a nada além de receio perante uma possível sanção penal ou retaliação de outras pessoas. Essa desvinculação afetiva e do impulso se manifesta sem comprometimento do nível de consciência. Os atos praticados não provocam repercussão emocional, como seria de se esperar” (p. 13). E mais: “Em uma cadeia de psicopatas, eles acabam respeitando uns aos outros, formando grupos de afinidade, mas sem nenhuma crueldade, porque ali todos são como ele. [...] Os psicopatas em cadeias próprias se agrupam por afinidade, mas nada fazem de cruel uns com os outros” (pp. 22-23).

O terceiro trata de chefes de facções criminosas. São os psicopatas organizados. “Esses tipos são chamados de psicopatas organizados interrogados porque, em nenhum lugar do mundo, eles se deixam examinar. Nenhum pesquisador no mundo conseguiu aplicar testes de personalidade em chefes de facções criminosas. [...]. Se o pesquisador ficar em contato com eles para aplicar testes, fazer entrevistas e procedimentos mais prolongados, logo eles vão saber quem você é, onde mora, onde estudam seus filhos e você vai ter de trabalhar para eles [...]. Eles provavelmente são psicopatas, mas nenhum estudo no mundo confirmou essa hipótese, embora se saiba que a crueldade deles é elevada” (pp. 30-31).

São notados – temos de dizer – alguns erros ortográficos relevantes (que estamos revisando para uma próxima tiragem), mas que não afetam o elevado conteúdo técnico do importante livro ora apresentado. Ele merece ser lido na íntegra, pois é, sem dúvida, um grande presente aos dedicados estudiosos brasileiros. Fará grande bem a todos os que com ele tiverem contato.

 

       Vanderlei de Lima é professor. Graduado em Filosofia (PUC-Campinas), pós-graduado em Psicopedagogia (UNIFIA-Amparo), pós-graduando em Psicologia Criminal Forense (Faculdade Iguaçu-Capanema) e escritor.

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